LEITURA BÍBLICA
Salmos 42.1-5.
l – Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus.
2- A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?
3 – As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, porquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?
4 – Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma; pois eu havia ido com a multidão; fui com eles à Casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava.
5 – Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua presença.
REFLEXÃO
“Certo é que não podes fruir duas alegrias: deleitar-te neste mundo e depois reinar com Cristo.
Logo tudo é vaidade, exceto amar a Deus e só a Ele servir.”
(Tomás de Kempis)
INTRODUÇÃO
Norman Snaith, comentando o Salmo 42, realça quão inefável é a comunhão que desfrutamos com o Senhor: “O homem que já experimentou a alegria da comunhão com Deus, não estará apático quanto às oportunidades de renovar, com Ele, a sua intimidade, quer em suas devoções particulares, quer nas adorações públicas. Esse homem simplesmente não consegue ficar longe de Deus. Sua alma sedenta, haverá de o impelir sempre à presença do Pai Celeste“.
Assim também diria William Bates, escritor puritano do século XVII. Ao discorrer sobre a intimidade entre a nossa alma e o Supremo Ser, descreve ele a alegria que lhe ia na alma: “A comunhão com Deus é o princípio do céu“.
I – O QUE É A COMUNHÃO COM DEUS
Tem você sede de Deus? Anela por sua presença? Suspira por seus átrios? Anseia aprofundar com Ele a sua comunhão? Aliás, sabe você o que é, realmente, a comunhão com Deus?
l. Definição.
A comunhão com Deus é a intimidade que o crente, mediante a obra redentora de Cristo e por intermédio da ação do Espírito Santo, desfruta com o Pai Celeste, e que o leva a usufruir de uma vida espiritual plena e abundante (Rm 5. 1; 2 Co 13. 13).
Andar com Deus é o mais perfeito sinônimo de comunhão com o Pai Celeste. Tão profunda era a comunhão de Enoque com o Senhor, que o mesmo Senhor, um dia, o tomou para si (Gn 5.24). Andar com Deus significa, ainda, ter uma vida como a de Eliseu que, por onde quer que fosse, era de imediato reconhecido como homem de Deus (2 Rs 4.9). Comunhão com Deus é ser chamado de amigo pelo próprio Deus (Is 41.8).
2. A comunhão com Deus é uma disciplina consoladora.
Apesar de seus grandes e lancinantes sofrimentos, Jó sempre refugiava-se na comunhão com o seu Deus (Jó 19.25). Suas perdas eram grandes; aos olhos humanos, irreparáveis. Todavia, confiava ele nas providências de um Deus de quem era íntimo. Até parece que Willard Cantelon, autor de imortais devoções, inspirou-se na experiência de Jó, quando escreveu: “Posso suportar a perda de todas as coisas, exceto do m toque de Deus na minha vida“.
II. A ALMA HUMANA ANSEIA PELOS ÁTRIOS DE DEUS
O ser humano não é o resultado de um processo evolutivo; é a plenitude de um ato criativo de Deus (Gn 1 .26). Se fomos criados por Deus, nossa alma, logicamente, aflige-se por Deus; anseia por seus átrios. E só haveremos de descansar, quando em Deus repousarmos (Sl 42.11). E se nos alongarmos do Criador? O vazio passa a ser a única realidade de nosso ser.
1. O vazio humano.
Billy Graham visitava, certa vez, uma universidade norte-americana, quando perguntou ao reitor: “Qual o maior problema que o senhor enfrenta com os seus alunos“. O educador respondeu-lhe: “Vazio. Há um vazio muito grande de Deus em seus corações“. Como preencher este vazio?
Buscando preencher o vazio de sua alma, vagueia o homem pelo álcool, transita pelas drogas e erra pêlos devaneios da carne. Depois de toda essa busca, conclui: “Não tenho neles prazer” (Ec 12.1 -ARA). Mas o que aceita a Cristo, esse experimenta uma vida abundante e inefável (Jo 4.14).
2. A plenitude da comunhão divina.
Sabia o salmista que somente em Deus encontramos a razão de nossa existência e a satisfação plena de nossa alma. Eis por que deixa emanar de seus lábios este lamento:
“Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a salvação da minha face e Deus meu” (Sl 43.5).
John Bunyan, em O Peregrino, descreve a angústia da alma em sua jornada à Jerusalém Celeste. Quanto mais caminha, mais falta do Senhor vai sentindo até que, ao longe, avista a ditosa cidade, onde se encontra o amante de sua alma – Jesus Cristo.
III. O DEUS DE NOSSA COMUNHÃO
Afinal, por qual Deus anseia a nossa alma? Pelo Deus teologicamente correio que se acomoda a todas as religiões e credos? Ou pelo Deus único e verdadeiro que se revelou a si mesmo por intermédio de nosso Senhor?
1. O Deus onipotente.
O Deus pelo qual suspira a nossa alma pode todas as coisas; para Ele inexiste o impossível (Gn 17.1; Lc 1.37). Entretanto, há um grupo de teólogos modernos que, menosprezando as Sagradas Escrituras, ensinam: Deus na verdade é poderoso, mas não pode ser considerado Todo-Poderoso. Assim eles argumentam: “Fora Ele realmente poderoso e tudo soubesse, certamente evitaria as tragédias que tanto infelicitam a humanidade“.
Será que esses falsos doutores desconhecem a soberania de Deus? Se Ele permite determinados males, não nos cabe questionar-lhe as razões. De uma coisa, porém, estou certo: todos os seus atos são movidos pelo mais puro, elevado e sublime amor.
2. O Deus onisciente.
O Deus, a quem tanto amamos, sabe todas as coisas; tudo lhe é patente. No Salmo 139, o salmista canta-lhe a onisciência, declarando que Ele nos conhece profundamente; esquadrinha nossos mais íntimos pensamentos, e não se surpreende com nenhuma de nossas ações.
Lecionam, porém, alguns dos sectários do Teísmo Aberto: “Deus, às vezes, é incapaz de penetrar nos recônditos de nosso livre-arbítrio por ser-lhe este um mistério“. Ora, se por um lado aceitamos o livre-arbítrio; por outro, cremos na soberania divina; esta é inquestionável. E não será nenhuma “liberdade libertária” que haverá de impedir o nosso Deus de sondar as mentes e corações (Ap 2.23).
3. O Deus de amor.
Se Deus é amor, porque nos sobrevêm aflições, dores e perdas? Ainda que não tivéssemos resposta alguma a essa pergunta, de uma coisa teríamos convicção: Ele é amor! Somente um Deus que é o mesmo amor, poderia enviar o seu Unigênito para redimir-nos de nossos pecados (Jo 3.16;1 Jo 4.8). É por esse Deus que almejamos.
Quando aceitamos a Cristo, cientifica-nos Ele: a jornada ser-nos-á pontilhada de lutas e aflições, mas conosco estará até à consumação dos séculos (Jo 16.33). O Filho de Deus é bem claro quanto às aflições que nos aguardam:
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23)
Se Ele nos amou com um amor eterno e sacrificai, por que deixaríamos nós de amá-lo? Oremos: “Cristo, tu sabes que, apesar de nossas imperfeições e falhas, nós te amamos“. Leia o Salmo 34, e repouse em cada promessa que você encontrar.
4. O Deus soberano.
No epílogo de suas provações, confessa Jó:
“Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido” (Jó 42.2)
Implicitamente, estava ele almejando aprofundar a sua comunhão com um Deus, cuja soberania é inquestionável. Este é o nosso Deus; por Ele nos desfalece a alma.
Por conseguinte, não podemos aceitar os falsos mestres e teólogos que, torcendo as Escrituras Sagradas, emprestam a Satanás uma soberania que pertence exclusivamente a Deus.
Refiro-me àqueles que dizem, por exemplo, que, para Cristo salvar um pecador, é-lhe necessária a permissão do Diabo. Ora, Cristo jamais foi constrangido a negociar com Satanás; sua missão é clara. Veio Ele para destruir as obras do Maligno, e foi exatamente isso que fez na cruz do Calvário (1 Jo 3.8). Nada devemos ao Adversário. Adoremos, pois a Cristo. Mantenhamos com Ele a mais doce e meiga das comunhões. Por esse Deus maravilhoso, anseia a nossa alma.
CONCLUSÃO
Em suas Confissões, demonstra Agostinho um profundo e incontido anseio por Deus. Abrindo o coração, suspira: “Quem me dera descansar em ti! Quem me dera viesses ao meu coração e que o embriagasses, para que eu me esqueça de minhas maldades e me abrace contigo, meu único bem“. O que evidencia esse anelo? Fomos criados por Deus, e por Deus ansiamos.
Sua alma tem sede de Deus? Se não o amarmos de todo o coração, jamais poderemos ser contados entre os seus filhos. Amar a Deus é a essência de nossa vida devocional.